Hora di Bai

Há aqueles que pairam, e os que afincam.
Os que pairam, mais tarde ou mais cedo precisam de terra. Como temem serem confundidos com o povo, escolhem um ponto alto, juntam-se entre si esperam a oportunidade para voltar a pairar. Algumas aves são companhia dos pairadores, como abutres.
Já os que afincam, apesar da sua condição de cravado na terra, são paradoxalmente Homens livres. A sua condição de afincado é tão somente fruto da sua perseverança. A terra não é para eles uma prisão mas sim uma a sua âncora.
Por vezes os pairadores (quando a vida não lhes corre de feição) errantes, descem dos céus para se confundirem com os afincados. Quando chegam, constroem narrativas, falam das agruras do seu passado, culpam o outro pelo seu do infortúnio. Objetivamente o que querem é tão somente dizer que são gente brotada da terra.

Os afincados com olhar de soslaio, já nem estranham de figuras assim. Todavia, quando o disfarce dos pairadores é exímio, os afincados sabem como identificar um impostor: Dão-lhes a provar água do mar. Se lhes souber a sal, são concerteza gente sem pátria. Mas se o gosto for de lágrimas, mesmo que nascidos noutra terra, são de certeza Homens livres.
A condição de afincado não é eterna, bem pelo contrário. Triste sina destes homens livres. A terra é cheia de humores, por vezes expressa-se com uma imensa seca, ventos, escassez de água, aridez… só para referir os mais relevantes.
Em tempos assim, os afincados perdem a sua condição, e partem. Distanciam-se dos abutres que pairam, e (re)encontram outros lugares.
São homens e mulheres que se expressam em voz alta e que todos os dias, mesmo sem o saber, fazem a verdadeira história do seu povo.

Hora do Bai – Hora de Partir

Esta obra gráfica, é uma homenagem àqueles que, apesar da perseverança, da luta diária pela sobrevivência das suas famílias, a terra teima em não segurar segurá-los.
São homens a quem que o destino (fé, diz-se por aquelas paragens) deu o engenho para construir as suas próprias asas e quando a hora di bai chegar vooam sem olhar para trás não olham para trás.

Santiago, 2017

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