
O que seria da escola, do ensino, da educação… sem o nosso homem-de-todas-as-máscaras?
O que seria das famílias portuguesas sem o seu acompanhamento tão fino, tão dedicado e, claro, tão televisivo?
Inimaginável seria o país se, por um capricho do destino, o homem-de-todas-as-máscaras desaparecesse dos ecrãs e dos holofotes das nossas muy queridas televisões.
Dor, sofrimento e agonia — é o mínimo que sentiriam os diretores escolares caso o homem-de-todas-as-máscaras abandonasse o seu posto de comando e se dedicasse, imagine-se, à tarefa que provavelmente já esqueceu: ensinar.
E o rebanho do Douro?
Como sobreviveria sem o seu presidente-de-todas-as-máscaras, farol moral e benfeitor da freguesia?
Felizmente, nada indica que tal tragédia se avizinhe.
Prova disso foi a sua última aparição pública — desta vez com a máscara de médico. Entre certezas e paternalismos sobre a saúde física e mental dos (velhos) professores, o nosso médico-do-costume regressou aos ecrãs para alertar sobre “fraudes” e “manigâncias ardilosas” de professores sabichões que — vejam só a ousadia! — se atrevem a ir aos consultórios de medicina do trabalho queixar-se do muito trabalho que têm nas escolas.

Queixarem-se, imagine-se!, da incompetência de tantos diretores escolares e dos sucessivos ministros da Educação inúteis, incapazes, ao longo dos anos, de resolver o labirinto de burocracia e indisciplina que sufoca a missão do professor.
Mas não temamos — o homem-de-todas-as-máscaras sabe o que é melhor: precisamos, diz ele, de “regras claras e garrote apertado” para pôr os professores “na linha”.
Se o nosso ilustre homem procura apenas atenção em tempo de pré-campanha autárquica — e uma visitinha à sua sorridente página de candidatura — saberemos no domingo.
Por agora, conseguiu o que queria: um levantar de vozes, de quintais e de eternos candidatos a secretários de Estado indignados com as declarações do médico-de-todas-as-máscaras.
Afinal, quem não se lembra de quando, no auge da pandemia, este mesmo homem afirmou, com a segurança dos iluminados, que “não havia surtos epidémicos nas escolas”?
Ou quando garantiu: “Não tenho dúvidas de que a maioria dos professores vai tomar a vacina AstraZeneca”?

A máscara de médico de medicina do trabalho, convenhamos, não é novidade.
E bastaram poucas horas para que o homem-de-todas-as-máscaras trocasse novamente de cabeça — reaparecendo a bajular os dirigentes educativos pela sua genial capacidade de amansar os professores e pacificar as escolas. Sessão Publica Tallis 7 de setembro 2025

Quem sabe, nas futuras negociações do Estatuto da Carreira Docente, não surja ainda uma nova encarnação — o El Santo— para dar voz, com unção e devoção, aos diretores que tão exemplarmente representa.
Porque, ao fim e ao cabo, o homem-de-todas-as-máscaras não ensina: representa.
E nessa arte, convenhamos, poucos em Portugal lhe fazem frente.

Para ouvir este episódio…
6 Comments
Add YoursMuito bom 👏 👏
Excelente crítica de quem está dentro das escolas.
O “Homem de todas as máscaras” que se dá ao luxo de opinar sobre tudo e todos, sempre de forma muito superficial.
De alguém que está dentro do sistema mas sempre do lado de fora!
Muito bom. Está na hora de tirar o palco a estes habilidosos
Muito bem dito, mesmo. Que vá mas é dar aulas. Com falta de professores, até que dava jeito. Mas penso que essa é a marcará que está em falta.
Muito bom!
Esse bajulador precisa de dar aulas. Trabalhar nesta brutalidade atual que é a vida de “professor”. O que faz não melhora em nada a vida dos professores.