GENTALHA, talvez não, Mas GENTIOS…

De um lado, os gentios adeptos de uma DIREITA moribunda, do outro, os gentios militantes de uma ESQUERDA POUCO REVOLUCIONÁRIA. Uns e outros desavindos no teor, mas muito hábeis nas miseráveis formas de explorar os proveitos gerados pelos braços e pelas ASSOMBRAÇÕES dos professores em protesto.

Fui pedir conselhos ao Mestre.
Mestre, posso tratá-los por gentalha? – O Mestre sorriu e, delicadamente, respondeu:

Bárbaros e selvagens sei que são, hipócritas e impostores, há quem diga que sejam.

Gentalha, talvez não, mas… gentios com certeza que são.
Segui os conselhos do Mestre.

E de súbito esses gentios, que se julgam proprietários da razão, lá do alto dos seus pedestais iluminados, onde permaneceram largos meses mergulhados num insustentável silêncio (porque as sombras não falam) surgem num repetente estratégico, para ensinar aos professores como se empreende o derradeiro protesto.

Façamos uma breve resenha dos acontecimentos.
Nos primeiros meses de 2023, a braços com uma crise descomunal e uma fatal desesperança, muitos foram os professores que se mobilizaram, participando na mais intensa luta pela educação de que há memória. Educadores anónimos, assistentes operacionais aguerridos, professores apaixonados. De forma inorgânica e apartidária todos se juntaram, a transbordar de esperança, convictos de que a história não haveria de voltar a repetir-se, mobilizaram a sua voz, os seus braços, a sua presença… dando corpo à mais nobre manifestação de vontades coletivas, no grandioso palco da cidadania – A RUA!

Sabíamos todos, serem árduas as batalhas, difíceis as conquistas e triunfos! As nossas dores são de facto complexas, díspares e dificilmente geradoras de oportunidades de vitória, num curto espaço de tempo. Porém, conscientes das dificuldades e dos entraves à obtenção das justas vitórias, a determinação do protesto, mesmo assim avançou! Conscientes, estávamos também, de que a cobiça dos gentios deambulava, dissimulada e entre nós.

Jamais ignoramos as movimentações dos agentes que se infiltravam nesses encontros.
À espreita, com um pé na classe e outro na oportunidade, porque as massas movem montanhas, geram votos e concedem poder institucional aos partidos, lá estavam os gentios… Selváticos predadores, de vigia, sempre preparados para se assenhorarem da energia da classe, para a sujeitar aos caprichos e às agendas dos seus partidos políticos.

Como é habitual, perante tamanha ganância, os gentios entraram em confronto, gerando o caos, quebrando a esperança dos professores recém-recuperada, fazendo implodir a vontade de MUDAR de uns, e os projetos LARANJAS de outros.
Toda esta trapalhada sucedeu no espaço de poucas semanas. Portugal inteiro teve a oportunidade de seguir as lutas fratricidas, que se desenrolaram em fóruns privados, deploráveis assembleias gerais e mexericos nas novas salas digitais. Profundamente triste e desolador!

Assim que foi decretado o pífio descalabro, a mesquinhez e a agiotagem do costume tomaram conta da luta de professores.

De um lado, os gentios adeptos de uma DIREITA moribunda, do outro, os gentios militantes de uma ESQUERDA POUCO REVOLUCIONÁRIA. Uns e outros desavindos no teor, mas muito hábeis nas miseráveis formas de explorar os proveitos gerados pelos braços e pelas ASSOMBRAÇÕES dos professores em protesto.

Em silêncio, esses gentios mantiveram-se na sombra, evitaram sujar as mãos, enquanto na rua os professores interpelavam e enfrentavam as governanças abusivas!
Calados, mas à escuta, assim que o Ministro tombou inanimado, os gentios abriram as asas e, quais abutres experientes, num voo rasante rapidamente se agarraram à carcaça em putrefacção e proclamaram VITÓRIA, VITÓRIA!

Dos gentios da DIREITA ou da ESQUERDA não reza a história, pois há muito terão perdido o tino e falhado os alvos! Carecem de atenção os jardineiros e os heróis empedernidos, que se dedicam a depreciar e a denominar de “puras” as lutas de outros, apenas e só, porque ousam florescer para além dos muros dos seus jardins!

Porém, os professores, alheios à “poda”, há muito decidiram tomar as rédeas da luta, definindo com firmeza os objetivos, as estratégias de ação e empenhadas demandas.
E a missão foi cumprida, e de que maneira! – Demitimos o miserável ministro, pondo fim ao seu reinado incompetente. Paz à sua alma!
Pois, afinal, quando os professores livres e apaixonados se empenham em educar para a ação cívica, nada os faz parar.

Mutatis Mutantis

Agora que o soberano foi deposto e com as eleições à porta, a azáfama dos gentios está ao rubro!

Os gentios alinhados à ESQUERDA limpam o pó aos apetrechos de guerrilha e aguardam que passe a campanha eleitoral.

Os gentios alinhados à DIREITA, após meses de silêncio, regressam apressados às manobras palacianas, definem estratégias de ataque e combinam o momento mais adequado para surgirem como heróis desta luta.
Para tal, recorrem aos órgãos de comunicação social (onde as portas sempre estiveram abertas para as suas ambições pessoais) e anunciam o grande evento – “O dia do GRITO final dos professores”!

Que gentalha é esta afinal?! (perdoe-me mestre, não consegui resistir)
Com que desplante ousam criticar Ramos, Rainhas, Pessoas e Campos, apenas porque a estes lhes terá faltado a acuidade política para
antecipar as manobras desta oportunista gentalha?

Gentalha oportunista esta, que luta entre si para obter uma esmola numa secretaria de estado da capital, uma atenção mediática para curar os seus egos insatisfeitos, ou aquele lugarejo na freguesia dos que se julgam senhores das montanhas?

Que gentalha “instruída” é esta que não sabe distinguir um sujeito político de um agente partidário? É gentalha infiltrada numa classe de profissionais, com o intuito de dominar e determinar as suas ações?

Que povoléu é este que lança infundadas suspeitas acerca de JÁS, gerados por vontades livres e espontâneas, por necessidade de mobilizar os professores para uma luta?

Chamar “carneiros a professores”, porque acreditaram numa voz que foi capaz de mobilizar e perturbar a podridão silenciosa que se vive em tantas escolas, repletas de seguidistas e chefinhos, é coisa de mentes perturbadas, que já perceberam que o Grito anunciado não passará de mais um “pio flácido” e circunstancial ao serviço dos partidos políticos que nunca deixaram de representar.

Muitos serão culpados por este esmorecer, mas apontar o dedo a colegas que dia-após-dia, abnegadamente, se entregam a esta luta, é triste.
Quem profere tal insulto, só pode ser portador de uma crónica e patológica imbecilidade intelectual, pelo que, não merece ser chamado de Professor.

O destino faz-se, não se segue, não se manipula, nem se impõe por vontade mediática!
Por fim, e por vontade do Mestre,
Quem Ama perdoa!


Pedro Brito

Professor,

Grupo 600 Educação Visual

A lutar desde 1992

“Não pagamos!”


Nota 1: Não permito que esta reflexão escrita seja partilhada em páginas hipermédia que se dedicam a comercializar produtos e outras inutilidades, para ganhar uns insignificantes trocos com as ansiedades dos professores.

Nota 2: quem ama não se esconde em perfis falsos ou insinuantes falsetes.

Nota 3: O autor não se esconde em fotografias nem perfis falsos, geradas por AI. Dá a cara sem medo e por amor.

(Originalmente publicado no website: www.amamosaescola.pt

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